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tanto peca o ladrão como o consentidor (Correio do Rio de Janeiro de 6 de novembro de
1823). A verdade é que ninguém ousava pronunciar o nome do principal suspeito: o próprio d.
Pedro. Na Câmara, o deputado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio,
discursaria depois sobre o episódio, dizendo:  É público e todo mundo sabe quem foram os
assassinos do Malagueta . Mas apesar de desafiado por Soares Lisboa, o deputado não os
denunciou.
Otávio Tarqüínio de Sousa acha que o mais provável é que a idéia do atentado tenha
partido mesmo de d. Pedro. Em carta a Metternich, Mareschal é positivo a esse respeito: o
atentado contra o Malagueta fora obra do imperador. Diz Varnhagen que José Bonifácio só
soube do atentado dois dias depois e que, além de Pais Leme, de cujo bolso caíra uma carta,
tinham tomado parte na agressão Berquó e Gordilho, amigos inseparáveis de d. Pedro. A tal
não se aventurariam sem a anuência dele. May, no protesto publicado em março de 1824,
desmentiu o boato de haver sido desafiado ou ameaçado por José Bonifácio na tarde do dia da
agressão. E finalmente, em 1832, inocentou os Andrada na Câmara dos Deputados. Do exílio,
Bonifácio falaria com amargura sobre o episódio:
Com que fingimento me não quis o imperador assegurar que não aprovava o dirigir a imprensa, que era justo e
constitucional deixar reclamar contra os ministros. É prova de que já então projetava derribar o ministério e aviltar os
homens que lhe tinham posto a coroa na cabeça: mas quando o doido do May escreveu contra ele, prorrompeu na
atrocidade que todos sabem.
Se o ano de 1822 foi o ano da glória para José Bonifácio, 1823 foi o ano da sua
desgraça. Não chegaria ao segundo semestre como ministro. No começo de sua relação,
sempre que precisasse, d. Pedro não hesitaria em pegar seu cavalo e ir à casa de José
Bonifácio, dando ensejo a comentários do tipo:  Ali está o príncipe, ajudante-de-ordens do
ministro . A natureza complicada de d. Pedro fazia que fosse, por um lado, extremamente
receptivo e, por outro, igualmente desconfiado e sensível a fofocas e intrigas. Ao mesmo
tempo, era como o pai: ciumento do trono, não admitia que outro homem se considerasse
acima dele. Vendo-o tão chegado ao ministro, não faltou quem lhe soprasse aos ouvidos que
José Bonifácio se julgava superior a ele.
Na manhã de 16 de julho de 1823, pouco mais de um mês depois do espancamento do
Malagueta, caiu o gabinete Andrada. Contribuiu certamente para a sua queda o rigor com que
José Bonifácio perseguira seus adversários. Some-se a isso também o início das atividades da
Assembléia, em maio de 1823, restabelecendo uma atmosfera mais democrática, que minaria
gradualmente sua autoridade. Tendo silenciado temporariamente os democratas, José
Bonifácio viu aprofundar-se, em meio aos que inicialmente o apoiaram, a divisão de
interesses entre os nascidos no Brasil e os portugueses.
Verificou-se que a Independência contribuíra para deixar mais clara a diferença entre
uns e outros. Os portugueses formavam a classe mais abastada e socialmente representativa do
país. Num tempo de convulsão política e de exacerbação do nacionalismo, tornava-se
flagrante a insatisfação dos brasileiros contra os seus privilégios econômicos e sociais. Os
comerciantes e demais portugueses atingidos pelo decreto de 12 de novembro de 1822, que
declarava sem efeito as graças concedidas a pessoas residentes em Portugal, e pelo decreto de
11 de dezembro do mesmo ano, que mandava seqüestrar as mercadorias, prédios e bens
pertencentes a vassalos de Portugal, somaram sua força à dos liberais perseguidos pelo
ministro.
Com a instalação da Assembléia, os democratas que tinham sido vítimas da Bonifácia
elegeram como prioridade derrubar o gabinete Andrada e, para tanto, acabaram por se aliar
aos absolutistas e aos neutros. É preciso lembrar que entre os democratas contavam-se
grandes senhores de terra e comerciantes portugueses, e que de sua agenda de reivindicações
políticas nunca constou a libertação dos escravos. Os arrojados projetos de José Bonifácio de
abolição do tráfico de escravos e até da própria escravidão, sua proposta de reforma agrária e [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]

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