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tenho que contar o que aconteceu porque a maioria de vocês esteve lá e viu tudo. Eu
estava com a chave de grifo no bolso traseiro da calça. Carlson me chamou para
resolver um problema no quadro-negro e eu sempre odiei isso - eu sou péssimo em
química. Começava a suar toda vez em que tinha que ir àquele quadro-negro.
Fúria - Stephen King
Era alguma coisa sobre peso-esforço em um plano inclinado. Não me lembro o quê, mas
errei tudo. Lembro-me de ter pensado que ele estava fazendo uma sacanagem comigo,
botando-me ali na frente de todo mundo para resolver um problema de plano inclinado,
que era na verdade um problema de física. Provavelmente o deixara ali desde a última
aula. E começou a zombar de mim. Perguntou-me se eu me lembrava de quanto são dois
mais dois, se eu jamais ouvira falarem divisão simples, uma invenção maravilhosa,
disse ele, ah-ah-ah, um verdadeiro Henry Youngman. Quando errei a solução pela
terceira vez, ele disse: "Bem, isso é simplesmente maaaraaavilhoso, Charlie.
Maaaraaavilhoso." Ele parecia, falando, igualzinho a Dicky Cable. Tanto, na verdade,
que me virei rápido para olhar. Tanto que, antes mesmo de pensar, desci a mão para o
bolso traseiro da calça onde estava escondida aquela chave de grifo. Meu estômago
estava todo contraído e pensei que ia simplesmente me curvar e vomitar todo o lanche
no chão.
Cheguei ao bolso com a mão, puxei, e a chave caiu, batendo no chão com um alto som
metálico.
O sr. Carlson olhou para a ferramenta.
- Agora, exatamente o que é isso? - perguntou, e fez menção de apanhar a chave.
- Não toque nela - gritei, abaixei-me e peguei-a.
- Deixe-me ver isso, Charlie.
E estendeu a mão para recebê-la. .
Eu me senti como se estivesse indo em 12 direções diferentes ao mesmo tempo. Parte de
minha mente gritava comigo - verdade, estava realmente gritando, como uma criança
num quarto escuro cheio de monstros sorridentes e horríveis.
- Não faça isso - disse eu.
Todo mundo ali me olhava. Olhava fixamente.
- Você pode me entregar isso ou entregá-lo ao sr. Denver - disse ele.
Nesse momento, uma coisa engraçada me aconteceu... exceto que, quando penso nela,
não foi absolutamente engraçada. Deve haver uma linha em todos nós, muito clara,
exatamente como a linha que divide o lado iluminado do lado escuro do planeta. Acho
que os astrônomos chamam a isso de terminadouro. O que é uma palavra muito
apropriada, porque, num momento, eu estava ficando louco e, no outro, estava tão frio
como um pepino.
- Eu lhe dou, cara - disse eu, e segurei com força o cabo da chave. - Onde é que vai
querer pegá-la?
Ele me fitou, os lábios contraídos. Com aqueles grossos óculos de aros de tartaruga que
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usava, ele parecia uma espécie de inseto. Uma espécie muito estúpida. O pensamento
fez-me sorrir. Apertei com mais força a chave.
- Muito bem, Charlie - disse ele. - Entregue-me essa coisa e depois vá para a diretoria.
Eu subo depois da aula.
- Vá comer merda - respondi.
E mandei a chave à frente em um movimento que partia de trás de minhas costas. A
chave bateu na superfície de ardósia do quadro-negro e pequenas lascas voaram. Notei
pó de giz amarelo na extremidade da chave, mas ela não parecia afetada de outra
maneira. O sr. Carlson, por outro lado, encolheu-se todo, como se eu tivesse batido em
sua mãe, e não naquela máquina de tortura chamada quadro-negro. Aquilo foi para mim
uma grande introvisão do caráter dele, podem crer. De modo que bati novamente no
quadro-negro. E novamente.
- Charlie!
- Um, dois, três, o quadro-negro é freguês... um, dois, três, o quadro-negro é freguês -
cantei, batendo em compasso no quadro-negro.
Cada vez que batia, o sr. Carlson dava um salto. A cada vez que o sr. Carlson saltava eu
me sentia um pouco melhor. Análise de ação transacional, gente. Moraram? O
Bombardeador Louco, aquele pobre-diabo de Waterbury, Connecticut, deve ter sido o
americano mais bem-ajustado do último quarto de século.
- Charlie, vou fazer com que você seja suspen...
Virei-me e comecei a bater no rebordo onde ficava o giz. Já havia feito um buraco
enorme no próprio quadro-negro. Isso não era difícil, logo que a gente descobria o
número dele. Esponjas e pedaços de giz caíram no chão, soprando poeira. Eu estava a
ponto de compreender que a gente pode descobrir o número de qualquer um se tem na
mão um porrete suficientemente comprido quando o sr. Carlson me agarrou.
Virei-me e atingi-o. Apenas uma vez. Houve um bocado de sangue. Ele caiu no chão c
seus óculos de aros de tartaruga patinaram uns dois metros para longe. Acho que foi isso
que quebrou o encantamento, a vista dos óculos deslizando pelo chão empoeirado de
giz, deixando-lhe o rosto nu e sem defesa, parecendo o que devia parecer quando estava
dormindo. Deixei a chave de grifo cair no chão e saí da sala sem olhar para trás. Subi
para a sala da diretoria e disse o que havia feito.
Jerry Kesserling veio me buscar em um carro da radiopatrulha e enviaram o sr. Carlson
para o Central Maine General Hospital, onde uma chapa de raio-X mostrou que estava
com uma fratura piliforme imediatamente acima do lobo frontal. Sei que extraíram do
cérebro dele quatro lascas de osso. Algumas dúzias mais e poderiam tê-las reunido com
cola de aeromodelismo para que formassem a palavra BABACA e lhe dado de presente
de aniversário, com os meus cumprimentos.
Houve reuniões. Reuniões com meu pai, com o bom e velho Tom, com Don Grace e
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com todas as possíveis combinações e permutas com as citadas personagens. Eu mesmo
tive reuniões com todo mundo, menos com o sr. Fazio, o zelador. Através de tudo isso,
meu pai manteve-se admiravelmente calmo - mas, de vez em quando durante essas
reuniões civilizadas, ele virava para mim, um olho gelado, especulativo, de tal modo
que eu sabia que, no fim, teríamos a nossa própria reunião privada. Ele poderia,
alegremente, ter me matado com as mãos nuas. Em uma época mais simples, quem sabe
se não teria feito isso.
Houve um pedido de desculpas muito comovente a um sr. Carlson todo envolvido em
ataduras, olho preto, e a uma esposa de olhos pétreos ("... tresloucado... eu não estava
em mim mesmo... mais arrependido do que posso dizer..."), mas não houve pedido de
desculpa algum por eu ter sido humilhado na aula de química,
suando em frente ao quadro-negro, todos aqueles números parecendo caracteres púnicos
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